quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mariluz – O Último Dia de Praia (+18)


Não sei colocar censura etária, portanto, se tiver menos de 18 anos, ser virgem, ou não gostar de emoções fortes, não leia a partir daqui!




Mariluz – O Último Dia de Praia




















Após duas semanas curtindo Mariluz (município litorâneo norte riograndense, praia pequena e irrelevante para a rotação do mundo, mas incontornável depois de descoberta), havia chegado o último dia dessas pequenas férias. Eu, minha namorada e meu melhor amigo, também com sua namorada, alugamos dois quartos de uma pousada bem discreta, familiar, cor de salmão - ou um laranja já desbotado -, à beira-mar. Alugamos um quarto ao lado do outro. O único problema é que a parede comum aos dois quartos era muito fina, e durante a noite alguns soluços escapavam, tanto de lá quanto de cá. Mas por causa dos mosquitos dormíamos completamente tapados pelo lençol, o que abafava um pouco o barulho.

Passamos o dia na areia, elas tomando banho de sol e nós, homens, jogando um futebolzinho. Depois, já no finalzinho da tarde, apreciamos o pôr-do-sol com um chimarrão, um violão e muitas risadas. Aproveitamos o dia como se aquele fosse o último dia de verão de nossas vidas. Dia 25, segunda-feira, eu tinha de voltar ao trabalho, naquele escritório chato de pessoas chatas e papéis inúteis.

Enquanto minha namorada Ana e meu amigo Zeca iam lavar os chinelos no mar, Suellen, a nova namorada do meu amigo, me revelou um tanto escondida que eu tocava muito bem, o que me fez reparar nela como não havia reparado ainda desde então. Em respeito ao meu amigo, não ficava espichando os olhos pra ela. Mas, assim que ela falou aquilo, levantou e foi em direção ao mar. Aí que percebi Suellen, toda loira, de pele tostada pelos banhos de sol, com seu short sumário deixando escapar as polpas da bunda e uma blusinha de crochê içada, pela imponência dos seios, pouco acima do umbigo. Ao estilo mignon, contava com apenas 1m60cm de uma suntuosa silhueta. Tinha olhos grandes e verdes, esplêndidos pares de coxas e pezinhos pequenos como uma chuva miúda no verão.

Passado o lapso de cobiça da mulher alheia e recobrando os sentidos após surto de vaidade que me tomou o espírito, soltei os lábios ainda rijos, levantei, sacudi a areia da bermuda, calcei os chinelos e emparelhei a caminhada com os três rumo à pousada.

Como em todas as outras noites, saímos pelo centrinho de Mariluz. Só que aquela noite era especial. Estava exalando uma estranha e agradável brisa no ar, que lambia nossos corpos com sua maresia e nos deixava ainda mais em clima de festa. Riamos sozinhos, nós quatro. Era realmente uma noite muito boa.

Lá por volta das duas da madrugada, sentamos à beira do mar novamente. Jogamos conversa fora, bebemos e discutimos planos. Tudo que quatro pessoas falariam quando levemente embriagadas. Um clima assim impende muitas indiretas por parte das mulheres. Sim, é claro que elas, amiúde, aproveitavam para se lamuriar daqueles gravames comuns à nossa raça.

O tempo corria nas crinas do vento, enquanto o sono chegava a cavalo e nossos olhos já semicerrados lacrimejavam. O grau etílico subiu gradativamente, seja pelos ponteiros do relógio, seja pelo cansaço que nos tomava da festa “interminável” das últimas duas semanas. Havia também uma garrafa quase vazia – ou meio cheia – de uísque nos acompanhando. Mas essa não tinha culpa de nada.

Voltamos - cambaleantes - para nossos respectivos quartos. Entretanto, antes de eu poder processar a ideia de me esparramar na cama e desfrutar as últimas horas das minhas férias, por alguma coisa que eu fiz - ou deixei de fazer -, mesmo sem saber o que tinha sido, minha namorada começou a discutir comigo. Mais uma daquelas brigas pesadas, que tanto me irritavam e me desmotivavam. Mulheres sempre fazem isso: pegam frases desconexas e fora de contexto, criam uma estória no seu imaginário fértil e usam contra nós depois, pobres e indefesos homens, escravos dessas torpes criaturas de Deus. Deve ser a tal da TPM. Será que ela percebeu algum olhar de Suellen pra mim a hora que eu tocava violão? Ou alguma coisa com relação à minha falta de perspectiva para o casamento após seis anos de relacionamento?

Mandei ela longe, deitei de costas para suas costas e me fechei como dedos. Embora estivesse exausto, não conseguia conciliar o sono. Virava, revirava, abraçava o travesseiro e nada de achar jeito na cama. Estava irritado e de cabeça quente. Tive de ir à beira mar para repensar minha vida, pois aquela briga era definitiva! (Sempre é!) O som das ondas e a maresia têm um efeito terapêutico em mim. Levei comigo o resto daquele uísque e bebi até a última gota. Já era o suficiente (?!).

Estava completamente envolto em pensamentos quando percebi que meu amigo também andava pela praia - talvez pelo mesmo motivo. Não pensei que aquela conversa na beira do mar tinha rumado para tais armadilhas femininas. Pegaram-nos desprevenidos, as duas! No entanto, Zeca estava avesso e não queria pensar ao som das ondas e cheirando maresia, queria mesmo beber mais no centro de Marilight, ver a mulherada. Orra, em posse daquela loira cordicuia de olhos verdes ele ainda tem olhos para outra mulher? Eu recusei a proposta e voltei trocando os pés ao meu quarto.

Quando entrei no quarto, pensei em não acender a luz para não acordar minha (furiosa) namorada. Não é que a desgraçada tinha conseguido dormir?! Pé por pé fui até a cama e deitei. Senti álcool das duas semanas inteiras retumbar naquele escuro circundante. Nesse instante, veio-me à cabeça que nas vezes em que brigamos nossas reconciliações sempre se davam com boas doses de sexo. Na minha opinião, as melhores transas são depois das piores brigas.

Obstinado pelo pensamento, parti para o ataque. Abracei seu corpo em concha, no desejo de dirimir aquela briga inútil – ainda que não existam brigas úteis. Ela estava deliciosamente nua por de baixo dos lençóis. Senti que ela me retribuiu o gesto, arrastando no colchão sua bunda para perto da minha cintura e retirando com os pés, de uma só vez, o lençol que lhe cobria. Veio com um roçar sensual que me estremeceu até o último pelo da alma! Sentia a eletricidade pulsando por todo meu corpo. Aproximei meu queixo na nuca dela, tentando arrancar um arrepio de sua espinha com minha barba. Segurei firme seu cabelo enquanto minha outra mão deslizava sobre suas coxas, já todas ouriçadas pelos calos dos meus dedos. Continuei no pescoço, virando seu corpo até que pudesse chegar aos seus lindos seios. E que seios! Sentia o bico hirto em meus lábios, enquanto fazia movimentos com língua e boca, ora remansados, ora provocadores. Pareciam deliciosamente firmes. Ela revirava-se, deixando marcas perpétuas no colchão. Nunca havia sentido tal aproximação entre nós. Aquele cheiro de xampu entrando nas minhas narinas. Era um desejo anímico, sem qualquer explicação plausível. Que pele! Enrolei minhas pernas nas dela, enquanto minhas mãos ainda descortinavam seu contorno. Foram minutos de intenso prazer preliminar. Indescritível. Com um movimento rápido, segurei com força e firmeza suas costas, virando seu corpo de bruços, de forma com que pudesse deitar sobre sua pronunciada bunda. Num pulo, tirei a cueca, subi e entrei. Nesse momento, em um gemido impudico, lento, tórrido e impublicável, como em uma ironia romântica, ela exclamou: “AI ZECA!”…


Sim, na azáfama da embriaguez eu havia imperdoavelmente errado de quarto. E antes que eu pudesse me lamentar do erro… já estava dentro da namorada do meu melhor amigo.








* A frase "pequena e irrelevante para a rotação do mundo, mas incontornável depois de descoberta" é de Luís Augusto Fischer, e está no songbook do Vitor Ramil.

** A expressão “Ironia Romântica” explicada em http://www.edtl.com.pt/?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=448&Itemid=2.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pastor Boça


Essa é em homenagem e in memorian (brincadeira) ao meu grande amigo Jonas.





Pastor Boça

O Boça era um daqueles caras que atraiam as pessoas. Por ser extrovertido, pelo jeito amigo de ser. Sempre rodeado de amigos. E bons amigos, daqueles fiéis. Sempre que bebia fazia de suas graças, daí o apelido Boça. Mesmo que pejorativamente fosse alcunhado de boçal, o apelido tinha estranhamente se atrelado à personalidade dele. E ele fez a questão de continuar a propagar suas “boçalidades” e fazer jus ao renome. Eram brincadeiras ímpares, daquelas que só as pessoas de muita presença de espírito conseguem fazer. Não contava piadas, mas fazia rir qualquer pessoa, ainda que a mais séria. Era realmente um amigo que todos deveriam ter.

Foi em um desses encontros que tive com ele, mais precisamente em seu aniversário, que ele fez a brincadeira mais engraçada de todas. Fez-se então pastor, desses das igrejas que gritam para serem incutidas no subconsciente - talvez pensem que Deus é surdo. Ele subiu no último degrau da uma escada de alvenaria, como quem sobe em um palanque. Fora aclamado e obrigado a fazer isso, pois era realmente muito engraçado. Então, lá de cima, gritou, com os braços pro céu, remetendo-se a todos os ávidos e bêbados fiéis: “Aqui minha gente, aqui na vila São Genaro, Rua das Hortênsias, número quinhentos e dez, não tem lugar pro Demônio. Aqui, nessa casa de gente decente, não entra o Coisa Ruim. Aqui, na vila São Genaro, número quinhentos e dez, não tem lugar pro Capeta!”.

Todos se riram até perder o estômago. Riam-se dele, do Capeta e dos pastores. Aplaudiam em pé e gritavam “Amém”! Era um espetáculo homérico. Estávamos bêbados e extasiados de tanto louvor e loquacidade. Quase um estase dionisíaco.

Escorreram-se dias e semanas após aquele dia e fatos estranhos passaram a acontecer. Misteriosamente, nos dias subsequentes ao da festa, os mais de trinta convidados foram, aos poucos, todos morrendo. Um por um. Coisas de filme de terror. Mortes inexplicáveis. Uns se acidentaram de carro, outros perderam partes do corpo em ocasiões no mínimo surreais. Houve até quem tenha se suicidado. Diziam-se perseguidos por algo.

Não se sabe se foi ironia do Cão, ou se foi de Deus, ou até mesmo coisa dos pastores. O fato é que depois daquele dia, ninguém restou vivo para contar essa estória. Inclusive o dito pastor Boça.

Depois desse evento trágico-cômico, surgiu a Família Restart, o Tiririca elegeu-se Deputado Federal e algumas Igrejas Universais por aí começaram a lucrar mais.

Esta carta foi psicografada por Adelaide de Castro que, misteriosamente, morreu engasgada com a borracha do lápis após escrever esse texto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eleições 2010 - Parte II - Por que existe a corrupção? – Brasil Democracia

Primeiramente, temos de lembrar, agora em época de eleições, como são feitas as campanhas eleitorais dos candidatos para deputado, senador ou presidente. O financiamento das milionárias campanhas provém de doações. Essas doações são feitas por pessoas afiliadas ao partido, pessoas que simpatizam com a proposta, mas, principalmente – e em maior quantidade -, por instituições privadas. Isso mesmo, empresas privadas como bancos, empresas de pavimentação asfáltica, grandes redes de supermercado, etc. E por que essas bondosas empresas fazem isso? Para ajudar a consolidar a democracia no país... putz! É para receber as “gratificações” pela doação da gratidão pelo eleito. Pense bem, quanto é preciso para divulgar em outdoors, panfletos, camisetas, bonés, carros de som, filmagens para o programa eleitoral, jingles, showmícios, viagens dos candidatos e outros artifícios do marketing político? Milhões de reais por partido, que, na sua maioria, escondem a origem desse dinheiro. A cada eleição são lavados milhões de reais, além dos interesses comprados pelas empresas.

Não gosto de citar números, nomes e datas, mas um bom exemplo dessa maracutaia toda é a empresa Cequipel, que em 2006 foi a maior doadora da campanha do ex-governador e candidato a Senador Roberto Requião, do PMDB. Foram R$ 645 mil. Misteriosamente a empresa, nos anos que se seguiram ao “investimento”, obteve um retorno bem maior ao vencer licitações. Em 2007, a Cequipel, Indústria e Comércio de Móveis, recebeu R$ 21 milhões em troca da compra de móveis para escritórios, quadros escolares e criou polêmica quando recebeu uma grana preta para a compra de televisores de 29 polegadas de tela plana. As crianças precisavam mais de TV que de merenda e material escolar, daí a polêmica.

Portanto, vemos a origem do mal corrupção no cargo público. Vemos de onde sai tanta falcatrua, lavagem de dinheiro e facilitação em licitações, o que é grave ilícito. Para quem não sabe, licitação é a concessão que o governo (governador ou prefeito), dá a alguma empresa para fornecer material necessário em alguma obra, ou na compra de materiais necessários, como pavimentação, construção, exploração, empreitadas, compra de armas para polícia, livros para escolas, entre outros. O certo seria escolher a que cobra mais barato para a obra, ou para a compra de um bem. Mas na prática não é bem assim que isso que acontece. Como vimos, uma empresa financia um candidato que, se eleito, dá uma mãozinha para essa empresa lucrar em cima de obras públicas, às vezes construindo com material de péssima qualidade, barateando o custo e aumentando o lucro (a cara do capitalismo). Vemos também que alguns políticos, de tão caras-de-pau, dão preferência a sua própria empresa. A Constituição brasileira proíbe que pessoas que exercem mantado sejam presidentes, donos ou administradores de empresas. Mas não fala nada de que parentes, cônjuges, e empresas na qual eles mesmos possam ser sócios, desde que não em cargo de liderança. Ou seja, os nossos eleitos podem ser sócios das empresas que eles mesmos facilitarão na hora da licitação. Isso se chama “puxar o assado para sua brasa”.

Então, cumpre ao eleitor, no quinhão de responsabilidade que lhe cabe, saber as financiadoras das campanhas dos eleitos. Prestar atenção à prestação de contas. E óbvio, investigar se esse candidato não é “ficha suja”. É assim que se exerce a cidadania, é assim que se faz uma democracia mais limpa, e não uma aristocracia velada, um Estado manipulado pelos grandes empresários.

Vi esses dias o filme Syriana, sobre a indústria do petróleo. Syriana é o termo pelo qual é conhecida a nova partilha política realizada pelos ganhadores da 2ª Guerra Mundial nos territórios e populações situados sobre os lençóis de petróleo do Oriente Médio. Ou seja, a coisa é muito maior do que pensávamos.

Estrelam atores como George Clooney, Matt Damon, e o diretor Stephen Gagham. O filme se originou de um livro de Robert Baer. Mostra a corrupção do petróleo nos EUA. Em um determinado momento, um promotor, que investiga a fusão de duas grandes empresas extratoras de petróleo em uma única e gigante, conversa com um sócio de uma empresa. Acontece um dos mais esclarecedores diálogos que já vi. O empresário fala que a corrupção é impressindível para o capitalismo. Sem a corrupção o sistema não tem como se mover. Sem burlar uma lei, as indústrias não podem crescer. Na situação ilustrada pelo filme, se criaria um monopólio, o que é proibido pela legislação americana (a nossa, inclusive, versa sobre monopólios também). Então, se fez um meche aqui, outro ali; matou-se um aqui, outro atentado ali; se criou uma guerra aqui, um tratado ali; uma teia de mentiras acobertando uma série de interesses... Assim se criou uma das maiores empresas de extração de petróleo do mundo. E nós nunca vamos saber de nada, pois temos a televisão, que é muito mais interessante.

OLHE EM VOLTA, VOCÊ ESTÁ SENDO ENGANADO!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ROCK PAI POP FILHO - ZECA BALEIRO

Falei de música esses tempos. Agora, postarei um artigo do grande Zeca Baleiro, compositor bem brasileiro que, a primeira vista, tem a mesma opinião que eu (ou nós).




Segue o artigo publicado na revista ISTOÉ Independente, http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/4_ZECA+BALEIRO, sem data.



ROCK PAI POP FILHO

Por Zeca Baleiro

Foi o rock que arrombou a porta e por essa picada aberta agora desfila um teatro de horrores sem estofo e a serviço de uma triste ideologia

O rock surge na década de 50, depois da Segunda Guerra, em meio à desolação do mundo e à necessidade de recriá-lo. O rock vem com a força de um furacão e mexe de forma definitiva no comportamento das pessoas e com a indústria cultural como nunca dantes visto. É transgressor, subversivo, questionador, abusado, rompe com valores estabelecidos, afronta a caretice vigente. A eclosão do rock coincide com o surgimento da televisão e é a pedra filosofal do que se conhecerá adiante como cultura pop.

Chego então aos tempos de hoje. Para constatar como a cultura pop, criada a partir do advento do rock’n’roll, foi-se diluindo, diluindo até chegar a um ponto que equivale à sua própria negação. “O que ontem era novo, hoje é antigo”, já atestava o poeta Belchior nos anos 70. Seu verso poderia ­derivar para “o que era transgressor hoje é careta”, tamanha a inversão de valores que há no mundo atualmente.

Pois o “Big Brother” e todos os sórdidos reality shows que infestam a tela da tevê, a publicidade cínica vestida de rebeldia cosmética, o circo do show biz e seu ridículo manual de atitudes, a pândega vale-tudo dos programas de humor, o rock programático e meloso das bandas emo, tudo que existe de mais acintosamente anti-rock’n’roll no mundo hoje é, por incrível que pareça, cria do rock. Foi o rock que arrombou a porta e por essa picada aberta agora desfila um teatro de horrores sem estofo e a serviço de uma triste ideologia: o benefício próprio, o enriquecimento fácil, o culto à fama mais que ao trabalho, a desmoralização de toda e qualquer virtude, o desprezo pelo passado e pela memória e o hedonismo mais perverso e sem charme de todas as eras. Se o rock lutava contra o estado de coisas do seu tempo, seus herdeiros lutam para manter as coisas como estão.

Caos x cosmo
Os místicos creem que após todo caos surge um cosmo, como os historiadores sabem que após toda idade de trevas surge uma nova era luminosa. Nunca porém o mundo ­esteve envolto nesta névoa de instantaneidade e fugacidade que a tecnologia digital nos trouxe. Em nenhuma outra ­época a ditadura do presente e a conectividade foram tão valorizadas como agora, por um motivo talvez banal: há ­ferramentas para isso. “Se há ferramentas, por que não ­usá-las?” – perguntam-se todos.

Conheço umas três ou quatro pessoas que optaram por não ter celular. Engana-se quem pensa que vivem no mato, como ermitões em busca da paz e da sabedoria perdidas. Não, são pessoas urbanas, ativas e ligadas à comunicação. Não têm celular para não perderem outra conexão, mais cara a elas: a conexão consigo próprias.

O mundo hoje é pura evasão. Não à toa, há um boom ­notável no turismo internacional. A arte aspira ser só entretenimento. E a informação transformada em espetáculo. Mesmo territórios quase sagrados, como a literatura, agora vivem no fio da navalha. Recentemente foi publicada bombástica notícia. Dois adolescentes adaptaram clássicos da literatura universal para o Twitter. Ou seja, transformaram a literatura no oposto do que ela pretende ser. O que era fruição lenta, reflexiva, prazerosa e gratuita, agora é expressa, rasa e a serviço da performance, do tipo “ganha quem ler mais!”...

O mundo futuro será alimentado de informações segundo a segundo. Eventos interativos a todo instante. Tudo dividido entre todos os mortais. Menos o dinheiro, o afeto e o respeito.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Eleições 2010 - Quem vai ganhar o Oscar de melhor coadjuvante de Lula?

Prometi para mim mesmo que não iria falar dessas eleições no meu blog... não consegui! Mas prometo, serei breve e só criticarei àquilo que está muito na cara e que me incomoda muito.


Primeiramente, vou criticar o grande teatro que se instalou na televisão brasileira, mais intensamente no horário político gratuito (pois não são só os candidatos que concorrem ao prêmio). Não importa em quem vamos votar, o eleito será um ator, com certeza. Sim, um ator, que ganhará o Oscar de melhor ator coadjuvante de Lula, “O cara”. O marketing tomou conta da democracia. Hoje só importa o jingle mais pegajoso, a foto mais perto do Lula (nas piores montagens), e a melhor maneira de se prometer a mesma coisa. Plásticas, maquiagem, roupas elegantes, tudo isso faz parte do circo que se armou. Tudo para enganar, falsificar a própria imagem para a de uma pessoa de reputação ilibada. Até falsificação em curriculum lattes se fez! Que vergonha, Dilma não passa de uma graduada, e não doutorada, como constava no seu lattes anterior. Que ridículo Dilma, a maioria dos brasileiros são felizes por ter terminado, a muito custo, o fundamental – e foram esses que elegeram Lula. Não é quem lê o jornal que coloca o presidente “lá”, mas sim quem limpa a bunda com ele! Não há com que se envergonhar, mentir, aumentar.

Só para lembrar, Dilma esteve envolvida no sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 4 de setembro de 1969, no Rio de Janeiro, pois era também uma ativista política naquela época. Não poderia deixar de ser, ela era da UFRGS. Mas isso também não é motivo para se depreciar. Digo que até deveria ser uma das plataformas de campanha. Estavam envolvidos também o Zé Dirceu, Onofre Pinto, Fernando Gabeira, e tantos outros conhecidos da política tupiniquim. Poucos sabem, mas Nelson Mandela era líder rebelde, matou centenas de inocentes em atos de terrorismo contra o governo da África do Sul, bem como participou de sequestros e sabotagens como forma de pressionar o então governo opressor. Era um Che sul-africano contra o apartheid. Isso faz parte da história, luta de classes, do oprimido contra o opressor. Isso tem de ser divulgado, pois “Madiba” conseguiu ser libertado de sua prisão perpétua e se tornou presidente e ícone da luta pelos direitos humanos, tanto que ganhou Nobel da Paz, em 1993. Lembro também o santo Gandhi, que lutou, mas como satiagraha, com a não-violência, conseguindo expulsar, depois de muitos companheiros mortos pelos soldados da rainha, a grã Bretanha, então colonizadora da Índia. Vale recordar que esse nunca ganhou prêmio algum, mesmo nunca matando nem deixado que guerras injustas permaneçam, como nosso último premiado pelo Nobel da Paz (a saber, presidente Obama).

(Esclarecendo, sou a favor da luta armada em tempos de exceções, pois é só dessa forma que será feita a revolução, e satiagraha não se repetirá. Se não, continuaremos nesse mundo de ilusões que vivemos na nossa “classe média”, confortáveis e com o cu na mão)
Lembro também que Dilma, assim como Serra e Plínio de Arruda Sampaio, nasceu em berço esplêndido. Creio que desses, Plínio fosse o mais abastado. Mas também acredito que somente esses são os legitimados para por em prática o socialismo. Somente os que nascem em classe média é que podem ter uma visão menos apaixonada, e, portanto, mais racional dos problemas sociais. Eles não tiveram a dificuldade do pobre, mas buscaram sabê-la, mesmo tendo uma vida boa (assim com Sidarta, o Buda). Eu, por exemplo, como dizem meus amigos, sou um socialista de Rolex. Não que eu tenha um, óbvio, mas dizem por eu não ser um “mulambo” que pede esmolas, e por isso não posso ser uma pessoa preocupada com a questão social do mundo. Um argumento vazio. Não posso defender a causa homossexual por não ser gay? Nem defender a erradicação do analfabetismo por saber ler e escrever? Tampouco posso me revoltar com o preconceito racial, já que sou branco, não é?

Um desses meus amigos (um dos melhores), ou melhor, inimigo íntimo de acirrados debates, disse, certa feita, que o Mc Donald's, no chamado “Dia do Câncer”, contribui mais para a sociedade do que o Greenpeace, o qual sou afiliado. Claro, que ele deve desconhecer que a carne usada para confeccionar os deliciosos hambúrgueres do Mc é proveniente da Amazônia, aquele quintal norte americano que esta sendo desmatado, queimado e ceifado do mapa brasileiro para criação de gado de corte. Mas isso ninguém gosta de saber. Então, paradoxalmente, eles ajudam o tratamento de doenças que eles mesmos ajudam a causar. Ironia ianque.

Continuando, acredito que o pobre, aquele que não teve condições a uma educação digna, não tem suporte para estabelecer uma revolta com os parâmetros intelectuais de uma pessoa que pôde estudar em colégios melhores. Eu, inclusive, estudei em escola particular até a 6ª série. Não tive melhor ensino na escola pública na 7ª série - até porque comecei a descobrir a malandragem da vida. Só para constar, sou de classe-média-média, mas tive um grande exemplo da guerra contra o autoritarismo dentro de casa, o meu avô. Meu avô participou de tantos manifestos quanto os presidenciáveis que citei. Foi preso, pressionado psicologicamente, expulso do exército, anistiado... foi um espírito rebelde de sua época, em que haviam os dominadores, os dominados condescendentes e esses que lutavam contra o status quo. Por isso posso dizer que sou legitimado a falar dos problemas sociais, pois tive exemplos e não tive a preguiça de me deixar iludir com esse panis et circus que a mídia propaga. Não só quero falar e criticar, como pretendo servir nesse sentido, assim que formado e togado como magistrado, pois creio que terei melhor visibilidade e ouvidos quando tiver uma posição social mais relevante. Mas, ainda sem ser juiz, tento subverter a mente preguiçosa de alguns amigos, mostrando que o mundo não é uma Disneylândia, e que um modelo de sociedade baseada no capitalismo neoliberal não é a melhor maneira de se viver. E é aí que eu entro com outra crítica ao tema central da postagem.

Plínio é um anti-herói, é o anticandidato dessa eleição. É o cara que vai mostrar, mesmo não tendo chances de se tornar presidente, que há outra solução além da que o Lula profetizou. Ele está aí para dizer que existe outra maneira de se ter uma sociedade equânime e justa. Tenta explicar em seu plano os assuntos que ninguém quer tocar. Darei um exemplo, próximo de nós gaúchos: a educação é o instituto mais perigoso para um governo de dominantes. E por quê? Um governo dura 4 anos, e nós eleitores não temos uma memória muito boa, então, mesmo que seja reeleito um candidato, a educação sempre é deixada de lado. Um governo de 4 anos corresponde a um aluno que entra na 1ª série e chega a 4ª do fundamental, ou um que sai da 8ª do fundamental e conclui com o 3º ano do ensino médio. Aquele não tem idade para votar, tampouco se preocupa com política, acha coisa chata de adulto; esse está na adolescência efervescente, e acha que todos os políticos são ladrões, não conhece nenhum, tem idade para votar, mas, como é facultativo, não perde tempo indo às urnas. E é claro, está muito mais preocupado com a namoradinha, o líder do BBB, a mocinha da novela, o artista da moda e a roupa que todos estão usando. Ou seja, não passa de um estereótipo pré-programado. Então, por essa razão, o professor continua mal pago, as escolas públicas continuam sucateadas, os alunos continuam mal tratados e feitos de idiotas, com matérias ultrapassadas e que não acrescentam em nada a visão crítica que se deveria criar, e as faculdades públicas continuam habitadas somente por filhinhos de papai que tem grana para pagar um cursinho. Alguns professores, os menos frustrados, conseguem passar algo para os alunos, os quais eu tive poucos na minha época de escola. É uma estratégia política. Eles fazem asfalto, obras de viação, criam estímulos para empresas prosperarem e contratarem mão de obra e empregos (aquela que não possa ser substituída por máquinas), colocam polícia na rua - que dá impressão de segurança (mas continuam pagando uma miséria pelo risco que eles correm) -, anunciam grandes descobertas, como o pré-sal (o futuro vazamento de petróleo, como o dos EUA) e as usinas elétricas (futuros acidentes como Chernobyl), e etc, coisas que são visíveis e fáceis de manipular, coisas que são imediatas e dão impressão de produção. Mas aquilo que vai fazer o povão começar a pensar, aquilo que vai fazer o povão sair da frente do Big Brother e ir reivindicar, aquilo que vai criar uma sociedade mais consciente de seu espaço no mundo e as consequências que isso gera, nisso eles nunca vão investir. Na minha época de escola pública faltavam professores (e algumas matérias eu não tive por essas faltas), outras foram abolidas da grade curricular, como a Geografia no 3º ano. Algumas matérias estão fadadas a extinção, visto que o estímulo que leva alguns corajosos a se arriscarem nela é cada vez menor. Quanto pode ganhar um filósofo, um historiador, um filólogo? Na maioria são todos muito mal pagos pela importância que têm. Isso tudo foi feito para que eu e você se acostumasse com tudo que é empurrado goela a baixa. Mas, por uma infelicidade do destino, eu não sou assim. Se você leu até aqui, também não é, ou não quer ser.
Nossa então governadora, ora candidata a reeleição, é uma dessas que aprova a luta pelos direitos, a livre manifestação. É só ver o que aconteceu no protesto dos professores na capital gaúcha. Pergunte aos profissionais do ensino o que eles receberam em troca do grito de indignação... PORRADA, foi isso que levaram. Claro que sempre amparados pelo jornalismo imparcial da RBS, filial da toda poderosa Globo.
Foi o embate dos mal pagos policiais da Brigada Militar, contra os mal pagos professores da rede pública. Uma briga de funcionários públicos que servem à sociedade. Isso, por mais incrível que seja, não pode ser aceitável.

(Alguns vão dizer que me contradisse em afirmar que só os abastados tinham chance de colégios melhores, então somente esses podiam criar, intelectualmente, a revolução. E que os pobres, que têm uma educação falha e parca, não teriam o suporte. Esclareço. Os pobres têm a escola pública. Se esta melhorar, então eles terão o suporte para melhorar as condições de vida da sua família, seja por votarem melhor, seja por pensarem melhor, fazendo com que se crie também um ambiente propício para a criação de um filho consciente, crítico. Explicado, portanto, a lógica de meu raciocínio.)

“Você está sendo enganado, é só olhar em volta!”, é o que está escrito em uma pichação que li esses dias no muro da Mauá, aquele que separa Porto Alegre do Cais do Porto. Esse lago que vai ser privatizado, se tornando privilégio dos sortudos compradores dos apartamentos e estabelecimentos que vão construir ao longo da orla. Vai virar uma Camboriú.

Finalizando...

Usei a desculpa da crítica às eleições para explanar outras coisas que vejo que estão erradas, mas isso faz parte do jogo.

Eu faço parte da parcela ínfima da sociedade que, perto do resto, fica menor do que a pontuação que agora usarei: . Sei que serei criticado sempre, pois o passado do socialismo não é dos melhores, apesar de o capitalismo ser tão prejudicial quanto, mas ter uma boa forma de máscara: a mídia.

O passado é uma história que ninguém quer resgatar, mesmo que nós fossemos aprender algo com isso. Mas com luta e com cerceamento de liberdades em favor do bem comum, chegaremos à equidade, à igualdade, à fraternidade e ao verdadeiro progresso: o que vem de dentro para fora.

Em outro post eu falo sobre as eleições. De verdade!