sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quando o Excesso de Leitura se Torna Prejudicial - A verdadeira Educação


O miolo do conhecimento



Estou inaugurando um tipo de post que há tempos quero ter no meu blog: descrever a etimologia de uma palavra e seguir falando de algo relacionado à palavra.

As palavras chave que inauguram este post é sedução e educação.

Sedução, etimologicamente, provém do latim seduco (se + duco), e significa separação, afastamento, divisão, partilha. É, portanto, também etimologicamente, antônima de duco (ducere), que significa, em latim, caminho, conduzir, comandar. Uma palavra que contém o radical latino duco é “educação” (E-ducere). Portanto, em última análise, sedução e educação são palavras antônimas, e se relacionam mais do que nós imaginamos. Seguir um caminho é se educar, desviar desse caminho é seduzir-se.

Ao que interessa, importa dizer que o excesso de educação (no sentido de caminho a seguir) é, outrossim, uma forma de sedução, ou seja, apartar-se do caminho certo.

Somos sempre seduzidos, seja por algo ou por alguém. Indiscutivelmente, vamos nos seduzir e nos desviar de um caminho, para o bem ou para o mal.

Tratando de educação, o hábito da leitura é um dos mais saudáveis que podemos ter com nosso corpo, junto com algo aeróbico e uma boa alimentação. A liberdade do homem é indissociável do conhecimento. E o conhecimento, desde a escrita, está nos livros. Aquele que lê se abre a um novo mundo, criado por outro homem, por outro cérebro. A criatividade dos autores nos leva a lugares completamente novos, imaginários ou muito reais. Uma mente aberta pela leitura nunca será escravizada por nenhuma outra coisa… a não ser a própria leitura.

Pois é, a leitura escraviza também. O homem acredita que, por estar lendo excessivamente, está tornando-se livre, por adquirir conhecimento, sabedoria, por estar se tornando um erudito, um culto. Mas acaba olvidando-se do fato de que busca conhecimento apenas para se tornar algo além de um macaco. E lendo exaustivamente, apenas suga de outros espíritos aquilo que não pôde extrair do seu próprio íntimo cinzento.

Todo homem é seduzido por algo. E o erudito, sendo seduzido por um tipo de literatura ou autor, torna-se escravo de outros cérebros, acreditando que aqueles pensamentos absorvidos são seus, condizem ao seu pensamento, não o de outras pessoas, que têm experiências diversas das suas e, muitas vezes, uma vida totalmente alheia à sua época.

Há um grande risco no excesso de leitura, assim como no excesso de qualquer coisa (até de sexo!). Passa-se a acreditar que o pensamento próprio nasceu consigo, quando deveras surgiu de uma tonelada do espírito próprio de outros homens. Como diria Arthur Schopenhauer, "a peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro; trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelos alheios porque carecem de cabelos próprios”.

Portanto, a leitura é o melhor dos hábitos, mas deve ser utilizada com moderação, para que o espírito crítico do próprio leitor não seja contaminado pela sedução de pensamentos alheios. Ninguém deve tomar para si o pensamento de outrem, apenas deve embeber-se de suplementos ao seu próprio raciocínio, sob pena de se tornar servo da sedução de um axioma alheio ao seu.

A importância das obras escritas por pensadores deve ser levada em conta apenas como título de início ou acessório de um pensamento próprio, pois o verdadeiro conhecimento e sabedoria estão no pensamento próprio, naquilo que o homem deve ter por si deduzido.

Tudo que se pensa na hora é válido, devendo ser filtrado e descartado aquilo que veio de outras cabeças. A informação nova, a crítica surgida de um fato atual, deve ser encubada, ponderada, e, só em último recurso, suplementada com pensamentos de outros homens.

Assim, o caminho - que pode ser também chamado de sabedoria - não será seduzido pelo pensamento estranho, e a educação – que é, para mim, o rumo trilhado pelo próprio homem, com suas idiossincrasias e atualidades – será pura e construtora de uma nova concepção, tal qual foram para os pensadores originários, trazendo a construção de algo novo, diferente de qualquer outra coisa escrita.


Pense bem, é muito melhor falar besteira por pensamento próprio que só genialidades entre aspas.

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