quarta-feira, 24 de novembro de 2010

No cais de São Brás

No Cais de São Brás




Ela despediu-se de seu amor, que em um barco partia
No cais de São Brás, onde ele jurou que voltaria
E encharcada em prato ela jurou que esperaria


Mais de mil luas se passaram
E ela estava sempre no cais... esperando


Muitas tardes se passaram
Passaram-se em seu cabelo e seus lábios


Vestia o mesmo vestido, pois se ele voltasse não iria se enganar
Os caranguejos a mordiam, sua roupa, sua tristeza e sua ilusão


E o tempo se escorreu, e seus olhos se encheram de amanheceres
Pelo mar se apaixonou e seu corpo se enraizou no cais.


Sozinha no esquecimento, com seu espírito
Sozinha, com seu amor em mar, no cais de São Brás


Seu cabelo se branqueou, mas nenhum barco seu amor a devolvia
E todos a chamavam de louca, a louca do cais de São Brás


Em uma tarde tentaram levá-la a um manicômio
Mas ninguém podia arrancá-la
Do mar jamais a separaram


Sozinha no esquecimento, com seu espírito
Sozinha, com seu amor em mar, no cais de São Brás
Quedou-se sozinha até o fim
Com o sol e com o mar, ficou nesse lugar
Sozinha no cais de São Brás




Tradução meia-boca feita por mim para música “El Muelle de Sá Blás”, de Monchy e Alexandra, interpretada por Maná.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cuba

Cuba divide opiniões. Porém, essas opiniões são incrustadas de ideologia, seja de esquerda, seja de direita, mesmo que quase todas essas pessoas que discutem nunca tenham ido a Cuba. Muito se discute sobre a maneira como vivem os cubanos; a repressão e a ditadura exercida pelo Estado ao povo; falta liberdade de opinião e imprensa. Porém, compre-nos perguntar a nós mesmos, em nosso mais íntimo posicionamento, seja conservador, seja reacionário, seja revolucionário, algumas questões: nosso modelo político e de Estado é melhor que o de Cuba?, nossa imprensa livre não é, análoga a essa “ditadura”, escrava de interesses privados, esses causadores de diferenças sociais gritantes?, nossa educação, saúde e consciência política são melhores aqui e nos países liberais do que lá em Cuba?

Só responderei a mim mesmo, essas questões e outras questões, quando ver as respostas com meus próprios olhos. Mas até lá, continuarei buscando uma verdade mais próxima da realidade. Leio artigos de esquerda à direita (entenderam o trocadilho?), e esse me chamou muito a atenção. Foi publicado em uma das revistas que mais sacia meu espírito de justiça. Segue abaixo.

Artigo de Fidel Castro escrito em 30/09/2010 e publicado na revista Caros Amigos


A destruição do mundo está nas mãos de Obama

Por Fidel Castro

Há dois dias, assisti Vanessa Davies em seu programa Contragolpe, do canal 8, da TV venezuelana. Ela entrevistava e multiplicava suas perguntas dirigidas a Basem Tajeldine, venezuelano inteligente e honesto, cujo rosto transparecia nobreza. No momento em que liguei o aparelho de televisão, estava em debate minha opinião de que apenas Obama podia impedir a guerra.

Imediatamente, veio à memória do historiador a ideia do enorme poder que lhe era atribuído. E, com certeza, é assim. Contudo, estamos pensando em dois poderes diferentes. O poder político real nos Estados Unidos está nas mãos da poderosa oligarquia dos multimilionários, que governam não só esse país, mas também o mundo: o gigantesco poder do Clube Bilderberg descrito por Daniel Estulin, criado pelos Rockefellers e pela Comissão Trilateral.

O aparelho militar dos Estados Unidos com seus organismos de segurança é muito mais poderoso que Barack Obama, presidente dos Estados Unidos. Ele não criou esse aparelho, e também o aparelho não o criou. Foram as excepcionais circunstâncias da crise econômica e da guerra os fatores principais que levaram um descendente do setor mais discriminado dos Estados Unidos, dotado de cultura e inteligência, a assumir o cargo
que ocupa.

Em que alicerça o poder de Obama neste momento? Por que eu afirmo que a guerra ou a paz vão depender dele? Tomara que a entrevista da jornalista com o historiador sirva para ilustrar o assunto.

Vou dizer de outro jeito: a famosa mala com as chaves e o botão para lançar uma bomba nuclear surgiu devido à terrível decisão em que isso resultaria, o caráter devastador da arma, e a necessidade de não perder uma fração de minuto. Kennedy e Khruchov passaram por essa experiência e Cuba esteve a ponto de ser o primeiro alvo de um ataque em massa com tais armas.

Ainda lembro a angústia refletida nas perguntas que Kennedy indicou ao jornalista francês Jean-Daniel me fazer quando soube que viria a Cuba e se reuniria comigo. “Será que Castro sabe que estivemos à beira de uma guerra mundial?”

Desde então, decorreu já quase meio século. O mundo mudou; muito mais de 20 mil armas nucleares foram desenvolvidas e o poder destruidor delas é equivalente a quase 450 mil vezes o daquela que devastou a cidade de Hiroshima. Qualquer um tem direito de se perguntar: Para quê serve a mala nuclear?

Essa mala é algo tão simbólico quanto o bastão de comando que permanece nas mãos do presidente como pura ficção.

Ora, bem. Eu me referi não a que Obama seja poderoso ou muito poderoso; ele prefere praticar basquetebol ou proferir discursos. Além disso, foi-lhe conferido o Prêmio Nobel da Paz. Michael Moore exortou-o a que ele o ganhasse agora. Talvez nunca ninguém imaginasse, e ele ainda menos, que nesta etapa final do ano 2010, se ele acatar as instruções do Conselho de Segurança das Nações Unidas — ao qual talvez seja exortado com firmeza por um sul-coreano chamado Ban Ki-moon — será responsável pela extinção da espécie humana.

Fidel Castro Ruz é ex-presidente de Cuba.