terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pastor Boça


Essa é em homenagem e in memorian (brincadeira) ao meu grande amigo Jonas.





Pastor Boça

O Boça era um daqueles caras que atraiam as pessoas. Por ser extrovertido, pelo jeito amigo de ser. Sempre rodeado de amigos. E bons amigos, daqueles fiéis. Sempre que bebia fazia de suas graças, daí o apelido Boça. Mesmo que pejorativamente fosse alcunhado de boçal, o apelido tinha estranhamente se atrelado à personalidade dele. E ele fez a questão de continuar a propagar suas “boçalidades” e fazer jus ao renome. Eram brincadeiras ímpares, daquelas que só as pessoas de muita presença de espírito conseguem fazer. Não contava piadas, mas fazia rir qualquer pessoa, ainda que a mais séria. Era realmente um amigo que todos deveriam ter.

Foi em um desses encontros que tive com ele, mais precisamente em seu aniversário, que ele fez a brincadeira mais engraçada de todas. Fez-se então pastor, desses das igrejas que gritam para serem incutidas no subconsciente - talvez pensem que Deus é surdo. Ele subiu no último degrau da uma escada de alvenaria, como quem sobe em um palanque. Fora aclamado e obrigado a fazer isso, pois era realmente muito engraçado. Então, lá de cima, gritou, com os braços pro céu, remetendo-se a todos os ávidos e bêbados fiéis: “Aqui minha gente, aqui na vila São Genaro, Rua das Hortênsias, número quinhentos e dez, não tem lugar pro Demônio. Aqui, nessa casa de gente decente, não entra o Coisa Ruim. Aqui, na vila São Genaro, número quinhentos e dez, não tem lugar pro Capeta!”.

Todos se riram até perder o estômago. Riam-se dele, do Capeta e dos pastores. Aplaudiam em pé e gritavam “Amém”! Era um espetáculo homérico. Estávamos bêbados e extasiados de tanto louvor e loquacidade. Quase um estase dionisíaco.

Escorreram-se dias e semanas após aquele dia e fatos estranhos passaram a acontecer. Misteriosamente, nos dias subsequentes ao da festa, os mais de trinta convidados foram, aos poucos, todos morrendo. Um por um. Coisas de filme de terror. Mortes inexplicáveis. Uns se acidentaram de carro, outros perderam partes do corpo em ocasiões no mínimo surreais. Houve até quem tenha se suicidado. Diziam-se perseguidos por algo.

Não se sabe se foi ironia do Cão, ou se foi de Deus, ou até mesmo coisa dos pastores. O fato é que depois daquele dia, ninguém restou vivo para contar essa estória. Inclusive o dito pastor Boça.

Depois desse evento trágico-cômico, surgiu a Família Restart, o Tiririca elegeu-se Deputado Federal e algumas Igrejas Universais por aí começaram a lucrar mais.

Esta carta foi psicografada por Adelaide de Castro que, misteriosamente, morreu engasgada com a borracha do lápis após escrever esse texto.

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