domingo, 10 de julho de 2011

Cãibras da Vida



Acordei esses dias, pelas oito horas da manhã, com o braço esquerdo inteiro em câimbras. Sequer conseguia mover o dedo médio e indicador da mão, e sentia meu braço inteiro formigar. Tentei dobrar os dedos, mas por maior força que exercesse, não obtinha sucesso. Fechei os olhos, virei-me de peito para cima e esperei o sangue fluir. Em cerca de um minuto recobrei os movimentos. Na mesma hora peguei um papel e rabisquei algo. Voltei a dormir e, só depois de uma semana, fui ver a ideia que tinha surgido daquele fato.

Sim, havia algo por trás daquele fato comezinho. Por mais comum ou trivial que possa ter sido. Ou talvez apenas algo que se pudesse usar como analogia ao fato de estar com cãibra. (Câimbra ou cãibra, pela nossa língua, tanto faz).

Bom, o fato é que eu pensei em algo e escrevendo essa ideia consegui extrair um pensamento. Talvez seja válido...

É comum que sintamos câimbra (ou cãibra). Isso ocorre por causa da contração espasmódica do tecido muscular, e quando perdemos a circulação de sangue no membro em que sentimos essa formicação, o membro atingido perde alguns movimentos, por que os movimentos são comandados do cérebro pela circulação sanguínea (óbvio). No meu caso, foi porque permaneci deitado por horas em cima do meu braço. O sangue, portanto, não fluiu nesse membro, deixando-o imóvel, sem responder aos meus impulsos cerebrais. Meu cérebro mandava, mas a mão, maior atingida pelo meu peso, não respondia aos movimentos que ele governava.

E que relevância tem isso?

Podemos traçar alguns pontos semelhantes nesse processo de formicação que acontecem na nossa vida, quotidianamente. Por muitas vezes nós deixamos alguma coisa deitar sobre nós, interromper nossa circulação. Então ficamos inertes, sem resposta aos nossos impulsos normais.

Sim, rompemos nosso fluxo sanguíneo, fazendo com que nosso corpo fique sem movimento em situações que nem pensamos que isso acontece.

Como assim?

Quando nos deixamos influenciar por outra pessoa, por exemplo (e foi justamente a alusão que pensei naquele momento de reflexão).

Existem outras pessoas em nossa vida, isso porque não conseguimos conviver com nós mesmos. E cada pessoa tem sua maneira de pensar, seu jeito de viver e ver as coisas. O grande problema é quando por paixão, por amor, ou por respeito (ou por falta de personalidade mesmo), deixamos de ser o que nós pensamos ser certo e somos o que a outra pessoa pensa ser certo.

Nisso, um amigo meu (parente emprestado), grande pensador e escritor, acertadamente descreve como “mapa mental” (http://www.devotosdoprazer.com.br/siga_o_seu_mapa). Cada um de nós tem um mapa mental. E esse mapa mental é nosso, e SÓ nosso. Nossa interpretação de mundo, nossa explicação da realidade, de fatos e acontecimentos. Só nós temos o caminho para nossa felicidade, o caminho para o “nosso certo”. Mas ao longo de nossa existência cruzamos com outras pessoas que, igualmente, têm seu mapa mental, não é?!

O problema todo consiste em nos deixarmos dominar por esse caminho do outro, essa percepção de “certo” e “errado” que tem o outro, ou a outra. Da mesma forma, é errado que imponhamos nosso mapa mental ao outro.

Então, por paixão, amor, ou respeito, deitamos sobre o nosso próprio fluxo sanguíneo e ficamos com nosso corpo e mente inteiros sem movimentos. Deixamos de pensar como pensávamos, de sentir como sentíamos, apenas pela vontade do outro, para nos adequarmos à vontades alheias.

Isso é válido, com certeza, quando tem um resultado positivo em nossa vida, quando essa mudança significa em uma evolução racional e emocional. Quando é benéfica.

Mas e quando chegamos a um determinado momento em que não achamos isso tão “normal” assim? E quando não acreditamos que esse certo não é mais tão certo? Quando não queremos mais ser o que o outro entende ser certo? Quando nosso corpo e mente volta a fluir no sangue de nosso espírito próprio? Quando tomamos as rédeas de nosso próprio corpo e vontade?

É por isso que vos digo, em toda minha reflexão, que, quando o corpo e os sentidos retomam a forma que tinham antes, quando o sangue volta a fluir na veia, tomamos a forma de uma mola que, quando encolhida, se liberta da pressão que a forçava.

Essa mola reprimida pode ser usada como figura de linguagem, assim como meu braço formigante. Somos subjugados por essa força que nos empurra, nos faz outra pessoa que não somos, nos tiram a corrente sanguínea. Mas quando recuperamos o nosso eu, quando voltamos ao que éramos... ah, daí sim explodimos e recobramos nossa força, recuperamos nosso EU!

Fica minha dica: não deixe seu eu, seu íntimo, sua personalidade, sua subjetividade, ser dominada pela vontade de outra pessoa, pela imposição, ainda que implícita, do seu amante - ou algo semelhante. Seja você, assim como você é.

Uma hora ou outra essa pessoa vai te conhecer, pode ter certeza. Não há compressão que perdure por muito tempo. Não há entendimento que invada nosso próprio conceito de EU e permaneça por muito tempo.

As pessoas se divorciam por causa disso. Tendo filhos ou não.

Essa força contrária faz retornar aquilo que outrora você era. Essa força interior faz com que não importe a pressão externa, o interno se sobreponha a qualquer risco do eu não ser o eu mesmo. Nosso cérebro não permanece por muito tempo sendo submisso.

Não seja quem você não é só para conquistar alguém que parece o se encaixar no seu padrão, que se adequa a você. É errado fingirmos ser quem não somos.

A pessoa correta, que se encaixa nos nossos padrões de parceiro ideal, aceitará o que nós somos, mesmo errado ou certo na interpretação dele.

Está em suas mãos ser quem você é, ou ser quem querem que você seja. Posso dizer - com a certeza de minha parca experiência -, um dia esse seu eu vai jorrar de dentro pra fora, e ninguém vai segurá-lo, nem aquele que você se modificou para se parecer perfeito.

Sendo você quem é, ou não, em determinado momento, esse seu EU irá transparecer. Você ou ele terá uma atitude. E essa atitude pode ser inesperada e drasticamente definitiva.

Quem você quer ser? A mola encolhida? O braço formigante? Ou você mesmo, com erros e acertos inerentes à sua vontade?

Escolha você mesmo!

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