Usarei aqui o termo Sociedade de Mercado porque é um
conceito mais utilizado pelos “imparciais” que a denominação Capitalismo - que
agora é tido como um conceito ideológico de esquerda, apesar de significar
exatamente a mesma coisa que Sociedade de Mercado.
A Sociedade de Mercado, ou
seja, o sistema político-econômico vigente no mundo ocidental criou algo
extremamente paradoxal na nossa sociedade: a liberdade irrestrita e a
necessidade de regulamentação dessa liberdade, a flexibilização da propriedade
privada e a defesa da propriedade privada.
O sistema de política
liberal pressupõe a liberdade dos indivíduos inseridos em sociedade livre e
democrática. Essa sociedade deve ter, ao contrário das ditas ditaduras de
esquerda ou de extrema direita, a liberdade de expressão, de manifestação
livre. Até nossa Constituição Federal protege isso.
Ocorre, entretanto, que essa
liberdade acabou por criar indivíduos críticos e que detém um forte aparato
erudito para criticar justamente essa sociedade de mercado. Esses críticos são
vistos, agora, como inimigos da ideia de mercado livre, porquanto não
resignados pelo sistema proposto. São como Yoani Sánchez, só que com ideias
inversas.
E como se formou esse
paradoxo? O sistema de mercado livre, com intervenção do Estado na economia, ou
capitalismo, caso algum saudosista ainda queira denominar assim (eu prefiro
capitalismo), nada mais é do que uma ideologia. Sim, é uma ideologia, na medida
em que estão dentro do conceito ideias de construção econômica, jurídica e
política de uma sociedade. Dessa “ideologia” de mercado intervencionista, ou
até mesmo anarco-capitalista, surgiram muitos teóricos, em sua maioria
economistas, como John Maynard Keynes, Ludwig von Mises, Friedrich Hayek,
Liebman, etc.
Essa ideologia de mercado, conjunto
de ideias pragmáticas e organizadas para serem exercidas na política econômica
e na sociedade, é amplamente divulgada em nossa grande mídia, ao passo que
temos, hodiernamente, centenas de propagandas de produtos criados em benefício
do consumo, fruto do livre mercado. Além disso, muitos teóricos dessa
ideologia, que utilizam a mídia para repisar os argumentos desse modelo.
Mídia "imparcial". |
Essa mídia gorda e
ideologicamente neoliberal, diuturnamente nos bombardeia com um sistema de
ideias voltadas aos interesses dos grandes possuidores, ou seja, empresários de
ramos influentes.
A grande mídia é, pois, para
a direita neoliberal o que a esquerda é para os militantes, sindicalistas e
trabalhadores politizados.
Nesse comenos, erigiu-se
algo que, até então, seria inofensivo aos grandes interesses: a internet! Um
grande sistema de computadores interligados que seria a cara da globalização,
sem, contudo, por em risco a mídia tradicional. É a união entre povos
distintos, a troca de culturas por meio virtual. Sem falar na alta
popularidade, que facilita a propagação de produtos e ideias. Com a conexão dos
povos por um sistema tecnológico, facilmente se chegaria a uma integração dos
interesses do mercado em se comunicar com outras nações, promovendo a chamada
“globalização”. De mercado, é claro.
Acontece que essa
globalização perdeu os rumos esperados. A liberdade social que o liberalismo
criou acabou voltando-se contra ele próprio, ao ponto de o mercado, através da
política, ver-se obrigado a fazer uma limitação a essa liberdade.
Eis que, então, surge o
projeto de lei norte americano SOPA (Stop Online Piracy Act), que visa à
proibição da “pirataria” on-line. Essa pirataria consiste em ofensa à
propriedade intelectual privada de autores sobre suas obras. Com o projeto
aprovado, a internet perde metade de sua utilidade, e passa a ser vigiada.
Esse é o paradoxo. O próprio
sistema de mercado e de consumo criou a tal “pirataria”, que nada mais é do que
a promoção dos autores às mais longínquas audiências do mundo, sistema esse que
é encabeçado pela própria globalização. Como globalizar informações sem que
elas firam direitos de propriedade? As pessoas querem conhecer aquilo que irão
consumir. E, de fato, a maioria das pessoas que “baixam” coisas da internet
acaba por se apaixonar pelas coisas que sequer teriam conhecimento, não fosse a
pirataria. Aquilo que não agrada, apesar de correr o mundo, não será consumido.
Dentro dessa nova realidade
da pirataria, há os que se adaptaram, transformando aquilo que lhes onerava em
algo extremamente rentável. Mas há também aqueles que não se adaptaram a essa
nova realidade, e brigam para voltar à época em que tudo era restrito e
controlado.
Esse paradoxo do mercado
privado mostrou aquilo que a própria sociedade é atualmente. Criou-se, por esse
excesso de liberdade e essa ferramenta de compartilhamento que é a internet, um
sistema novo, além das fronteiras do grande capital, dos interesses privados.
Em contraponto dos pressupostos liberais, querem que o Estado aja como
Imperador para barrar as sangrias dos cofres privados. Ou seja, quando a coisa
começa a apertar, eles querem um Estado atuante e repressor, algo próximo das
regulamentações do Estado cubano.
Além da proibição de sites
de compartilhamento de músicas e obras que não tenham direitos sobre a
propriedade alheia, existe a sanção aos grupos econômicos de financiamento que
contribuem com esses sites piratas. E o pior, qualquer página da internet tida
como “suspeita” será derrubada, sem prévia ação judicial e aviso, promovendo
uma restrição, inclusive, da crítica a qualquer outra maneira de ver o sistema
de mercado que não seja do interesse do próprio mercado.
É de se ressaltar que a
internet nos EUA estará livre disso, pois a lei se aplica somente aos outros
países.
Creio que está surgindo uma
proposta de sanção às liberdades propostas pelo próprio sistema de mercado, que
é regida pelos interesses dos EUA, a grande potência econômica mundial. Terão
sucesso nessa empreitada? Ou as manifestações coletivas na internet contra esse
sistema conseguirão derrubar e vetar esse projeto?
Pois é, mercado, pariste um
filho rebelde. Agora aguenta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário