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O miolo do conhecimento |
Estou inaugurando um tipo de post que
há tempos quero ter no meu blog: descrever a etimologia de uma palavra e seguir
falando de algo relacionado à palavra.
As palavras chave que inauguram este post é sedução e educação.
Sedução, etimologicamente, provém
do latim seduco (se + duco), e significa separação,
afastamento, divisão, partilha. É, portanto, também etimologicamente, antônima
de duco (ducere), que significa, em latim, caminho, conduzir, comandar. Uma palavra que
contém o radical latino duco é “educação”
(E-ducere). Portanto, em última
análise, sedução e educação são palavras antônimas, e se relacionam mais do que
nós imaginamos. Seguir um caminho é se educar, desviar desse caminho é
seduzir-se.
Ao que interessa, importa
dizer que o excesso de educação (no sentido de caminho a seguir) é, outrossim,
uma forma de sedução, ou seja, apartar-se do caminho certo.
Somos sempre seduzidos, seja
por algo ou por alguém. Indiscutivelmente, vamos nos seduzir e nos desviar de um
caminho, para o bem ou para o mal.
Tratando de educação, o hábito
da leitura é um dos mais saudáveis que podemos ter com nosso corpo, junto com
algo aeróbico e uma boa alimentação. A liberdade do homem é indissociável do conhecimento. E o
conhecimento, desde a escrita, está nos livros. Aquele que lê se abre a um novo
mundo, criado por outro homem, por outro cérebro. A criatividade dos autores
nos leva a lugares completamente novos, imaginários ou muito reais. Uma mente
aberta pela leitura nunca será escravizada por nenhuma outra coisa… a não ser a
própria leitura.
Pois é, a leitura escraviza
também. O homem acredita que, por estar lendo excessivamente, está tornando-se livre, por adquirir conhecimento,
sabedoria, por estar se tornando um erudito, um culto. Mas acaba olvidando-se
do fato de que busca conhecimento apenas para se tornar algo além de um macaco.
E lendo exaustivamente, apenas suga de outros espíritos aquilo que não pôde
extrair do seu próprio íntimo cinzento.
Todo homem é seduzido por
algo. E o erudito, sendo seduzido por um tipo de literatura ou autor, torna-se escravo
de outros cérebros, acreditando que aqueles pensamentos absorvidos são seus,
condizem ao seu pensamento, não o de outras pessoas, que têm experiências
diversas das suas e, muitas vezes, uma vida totalmente alheia à sua época.
Há um grande risco no
excesso de leitura, assim como no excesso de qualquer coisa (até de sexo!). Passa-se
a acreditar que o pensamento próprio nasceu consigo, quando deveras surgiu de
uma tonelada do espírito próprio de outros homens. Como diria Arthur
Schopenhauer, "a peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro; trata-se
de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelos alheios porque
carecem de cabelos próprios”.
Portanto, a leitura é o
melhor dos hábitos, mas deve ser utilizada com moderação, para que o espírito
crítico do próprio leitor não seja contaminado pela sedução de pensamentos
alheios. Ninguém deve tomar para si o pensamento de outrem, apenas deve embeber-se
de suplementos ao seu próprio raciocínio, sob pena de se tornar servo da
sedução de um axioma alheio ao seu.
A importância das obras
escritas por pensadores deve ser levada em conta apenas como título de início ou
acessório de um pensamento próprio, pois o verdadeiro conhecimento e sabedoria
estão no pensamento próprio, naquilo que o homem deve ter por si deduzido.
Tudo que se pensa na hora é
válido, devendo ser filtrado e descartado aquilo que veio de outras cabeças. A informação
nova, a crítica surgida de um fato atual, deve ser encubada, ponderada, e, só
em último recurso, suplementada com pensamentos de outros homens.
Assim, o caminho - que pode
ser também chamado de sabedoria - não será seduzido pelo pensamento estranho, e
a educação – que é, para mim, o rumo trilhado pelo próprio homem, com suas idiossincrasias
e atualidades – será pura e construtora de uma nova concepção, tal qual foram
para os pensadores originários, trazendo a construção de algo novo, diferente de qualquer outra coisa
escrita.
Pense bem, é muito melhor falar besteira por pensamento próprio que só genialidades entre aspas.
Pense bem, é muito melhor falar besteira por pensamento próprio que só genialidades entre aspas.
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