Imagine a cena: um adolescente desengonçado - espinha na cara, óculos de grau, sem muita vida social e particular interesse em computadores -, o famoso
loser, se apaixona à primeira vista pela garota mais
popular da escola - normalmente uma loira, olhos claros, líder de torcida, geralmente fútil e que o despreza profundamente -, que namora o bonitão e musculoso - esportista, popular entre as outras garotas e que vai ganhar uma bolsa de
estudos por ser o melhor do esporte popular que pratica. O loser, ou o destino do roteiro, consegue um jeito de se aproximar da gostosa por causa das más notas da garota fútil, dando aulas de reforço. O gostosão popular não
gosta, então passa a humilhar o nerd/geek/loser de várias maneiras ao longo da trama. Esse é o enredo de 90% dos filmes do cinema hollywoodiano
voltados para os adolescentes.
Muitos já perceberam que
nossa juventude atual não consegue lidar com certas situações de pressão, seja
na escola, na família ou no trabalho. Geralmente, quando uma pessoa mais
“forte” (física, hierárquica ou psicologicamente) coage um jovem pratica certo tipo de
“crime” ou atitude reprovável, algo que deve ser reprimido. É o chamado bullying. Por prepotência, problemas
familiares ou pura demonstração de força, muitos jovens rebaixam colegas,
principalmente os que são visivelmente mais “fracos”. O problema é que, quanto
mais os “fracos” se fragilizam, mais os prevalecidos se fortalecem.
Essa onda de agressões
físicas e psicológicas parece ser algo novo pra nós, um desafio a ser
enfrentado pelos pais e educadores. Antigamente, apesar de também existir esse
tipo de violência, as “vítimas” não tinham tanta tendência ao suicídio,
homicídio, chacina ou à depressão. Ou pelo menos não em maior número e maiores
tragédias.
Aqui pelo Brasil, acho que
isso é causado pela soma de alguns fatores. Li esses dias um post interessante
que falava sobre a maneira como os jovens e adolescentes de hoje são mais suscetíveis
à depressão por bullying. Dizia o
autor que responsável por essa onda de vitimização é a mudança de fórmula no
Merthiolate, que agora não arde mais. Bom, tirei uma conclusão um pouco
diferente, apesar de a metáfora ser ótima.
Há décadas estamos sendo
bombardeados por uma influência grande da mídia norte-americana na nossa
televisão e cinema. São filmes, séries, canais de TV a cabo, além de uma grande
dominação linguística, neologismos, anglologismos e etc. É uma conhecida
fórmula de colonização através da cultura e da língua, pois, desde os gregos, o
idioma e os hábitos dos “mais civilizados” sempre foram uma boa forma de unir
colônias e povos “inferiores” ao Império, torná-los bons selvagens, servos pela
sedução, quando não pela coerção.
A questão é que nossa
televisão aberta passa apenas filmes
de procedência americana. No máximo, alguma produção cinematográfica
estrangeira premiada em Hollywood que passa na nossa programação televisiva por
consentimento das grandes mídias. Portanto, com o passar das décadas, absorvemos
a cultura norte-americana, tornamos ela um referencial. Passou a se buscar uma correspondência
à personalidade “superior” dos estadunidenses, sendo eles “mais civilizados” e
evoluídos que nós (segundo um americano aí, enquanto eles brincavam com novas
tecnologias, nós brasileiros brincávamos na lama, daí os bons jogadores de futebol). Não faltam exemplos de como
é a visão dos norte-americanos sobre nós, nem de como exaltamos a cultura
deles, em detrimento da nossa.
As produções de cinema da
nossa televisão mostram a importância da imagem individual dos atores sociais
no padrão norte-americano, aquilo que eles têm de ser para os outros: populares, superiores, competitivos, mormente para o ambiente da escola, num
primeiro contato com a vida social, fora do núcleo familiar tradicional e do âmbito dos amigos próximos.
Assim como eles, nossos atos
têm se resumido a uma caça pela correspondência desse modelo de estrutura
social. No caso em comento, nos colégios, os valentões e os oprimidos agem de
acordo com o que veem nos filmes americanos, seja no âmbito psicológico
particular, seja nas tragédias.
Por óbvio, os filmes
americanos só retratam (e talvez abusem da fórmula) a realidade existente por
lá, em que alunos que sofreram humilhações públicas invadem escolas com
metralhadoras para matar seus colegas “malvados”, se suicidam, ou, na melhor
das hipóteses, se entopem de remédios. Lá existe uma cultura bélica muito
forte, porquanto é uma nação que, desde sua independência, passou poucos anos
sem uma boa guerra. Desse modo, nossas influências acabaram por demonstrar que
estamos absorvendo essa cultura imperialista norte-americana de uma maneira
muito mais forte do que se pensa.
É patente a influência dos
padrões norte-americanos nos jovens das últimas gerações, tanto que muitos se
identificam com “Glee” e outros tantos filmes e séries de cunho moral, que se
iniciam basicamente na década de 80. De 1950 a 1979 os jovens e a cultura de lá
eram um pouco diferentes.
Muitos se sentem subjugados
pelos “valentões”, ao ponto de exigirem uma vingança em igual proporção, ou
muito maior ao agravo, por questões psicológicas. É o caso do assassino do
Realengo, que descobriu-se ter sofrido bullying
no colégio.
Existem também aqueles que não consegue lidar com a situação de humilhação no seu meio social, e, por não terem contato íntimo com os pais, familiares ou educadores (leia-se instrutores), acabam ficando sem ter a quem recorrer; apelam comumente às drogas, à criminalidade, à depressão e/ou suicídio, como uma forma de autodestruição, autoflagelação e eliminação do sofrimento. Sentem-se, em parte, culpado pela própria fragilidade e pela violência que sofrem.
Isso deve-se a uma vitimização, uma fragilidade excessiva na personalidade das pessoas. E não só nos jovens; tudo vira ameaça, ofensa, dano moral, assédio. Ninguém mais pode pedir uma sopa nova num restaurante por causa de uma mosca que caiu lá acidentalmente, querem enriquecer alegando que nunca mais vão tomar sopa em razão do infortúnio. Não há mais bom senso, razoabilidade.
É por causa disso que os consultórios de psicólogos e psiquiatras estão lotados de pessoas que apenas não sabem lidar com a vida, com a realidade, que necessitam amorfinar-se, desligar-se do sofrimento. Acham a realidade dura demais, o sofrimento algo a ser evitado ao extremo, em prejuízo da saúde mental. Um mundo que antes era cor-de-rosa e agora ficou preto e branco, e dá-lhe remédio pra maquiar a dor e o pesar. As pessoas não são estimuladas a viver e conviver com o sofrimento. "Toma um remedinho tarja preta que passa". E com isso os médicos inescrupulosos financiados pela indústria farmacêutica vão lucrando bilhões, mantendo as pessoas sedadas e inertes à própria dor.
O sofrimento é necessário, o
luto é fundamental, a dor ensina, já diriam os clichês.
Boa parte desse sentimento
de fragilidade provém dessa cultura vazia do culto à imagem, propalada principalmente
pelos norte-americanos e que nos chegam pelos filmes. Estão construindo uma
geração de “mariquinhas” (estou falando de vítimas, não de homossexuais), gente
tão preocupada com a própria imagem que é capaz de agredir, humilhar, assim
como, pela humilhação sofrida, exigir vinganças cinematográficas e banhos de sangue.
É a influência da cultura
norte-americana, a importância da própria imagem que eles fizeram o favor
de propagar - e nossa mídia fez o desfavor de reproduzir. Se lá estão
construindo uma cultura para vender antidepressivo e tarjas-pretas - inclusive
a crianças e adolescentes - é questão pra outro tópico. Mas que estamos cheios
de “mimimis” e ficando “dodóis” por pouca coisa, isso sim, estamos. E muito! É nos
jovens que isso pode cessar.
Por isso, diga não ao
bullying, não seja uma vítima. Ignore! Se há agressão física, denuncie. Polícia
serve pra isso. Autoridades servem pra isso. A justiça é um meio, quando há grave dano. Mas não algo suportável.
Se aconteceu alguma coisa passível de "dano moral", pense mesmo se é um dano, se afeta mesmo seu sistema psicológico. Tem coisas que acontecem por engano, por erro, por descuido, e que podem ser coibidas com uma simples advertência.
Se você sofre assédio moral no trabalho, denuncie, mas não se abale. Ou quem pratica é um babaca, ou você não tem aptidão pro que tá fazendo e pode procurar um emprego que melhor se adapte às suas habilidades e possibilidades. Às vezes as pessoas têm razão, e somos mesmo peixe no aquário errado.
A vida é dura, ninguém disse que seria fácil.
A evolução se dá não nos que
apenas sobrevivem, mas nos que melhor se adaptam às adversidades.
caralho cara muito bom
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