
“I faced it all and I stood tall. And did it my way”... Rosalinda abre a boca
para dizer qualquer coisa quando é interrompida pelo marido, que de súbito põe
o dedo indicador sobre seus lábios, pega sua cintura, cola a testa na dela e,
balançando, a convida para dançar. Ela solta o corpo há anos tenso sobre os
braços dele, como há muito tempo não ousava dar. E ele, enrijecido pelos anos
como os calos que surgiram em suas mãos, tem um olhar cheio de ternura e graça
que cheira a guardado de tão obsoleto. De tanto ele maldizer a vida ela já nem
sonhava mais, mas sua carne tesa, já macilenta pela falta de calor no sangue, retornou-se
jovem e se enrubesceu. Então enfim ela ouviu a música, e se lembrou do tempo que
havia no sorriso de Arnaldo. Um tempo que só quem viveu recorda em tais tonalidades. O calor
dos braços aumentava a cada subida do timbre grave de Elvis, até que soam os
metais e ela começa a girar desatada.
De mãos dadas, saíram os dois pela rua
rodando, dançando a música que só eles escutavam. À luz da praça, sob o véu da lua,
dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou. Foi tão grande a
felicidade que a cidade inteira se iluminou. Deram tantos beijos loucos, tantos
risos roucos, como não se ouvia mais. E o mundo compreendeu. E o dia amanheceu
em paz.
Baseada na música "Valsinha", do Chico Buarque com Vinicius de Moraes e título e trecho da "My Way", interpretada por Elvis Presley.
Baseada na música "Valsinha", do Chico Buarque com Vinicius de Moraes e título e trecho da "My Way", interpretada por Elvis Presley.